Quantas vezes não vimos as aventuras de um vilão atrapalhado que tenta alguma proeza em troca de reconhecimento? Este é o desejo de Gru, personagem principal da animação Meu Malvado Favorito [Despicable Me, 2010]. Com voz original de Steve Carrel, o Michael Scott da série The Office, e dublagem brasileira do comediante Leandro Hassum, o malvado do título planeja algo mais ousado que um roubo comum: ele quer roubar a lua. Assim, alcançará de vez o estrelato, principalmente depois que alguém realizou um roubo mais fenomenal que os dele.
Para alcançar seu objetivo, Gru conta com a ajuda de um cientista, o Dr. Nefário, e seus Minions – aquelas criaturinhas amarelas que muito se assemelham aos coelhos raivosos dos jogos do Rayman. Apenas coincidência? Ainda assim, eles são os responsáveis por algumas das melhores, apesar de raras, cenas cômicas do filme.
Claro que nem tudo é fácil e Gru também tem um adversário, Vector (com voz de Jason Segel, no original, e Marcius Melhem, na versão brasileira), que vive atrapalhando seus planos. E aqui aparece um dos grandes problemas do filme: a falta de representatividade do adversário de Gru. É praticamente impossível gostar ou ao menos simpatizar com Vector, o que atrapalha até o protagonista. Afinal, a identificação por um personagem também depende dos outros ao seu redor – você pode até odiá-los, mas isso faz com que eles ao menos sejam marcantes, coisa que Vector está longe de ser.
Existem também as crianças: Margo, Edith e Agnes. Apesar de serem uma das melhores coisas do filme (a Agnes é extremamente “tchuca”), são também um de seus maiores defeitos: de onde vieram e porque foram parar em um orfanato? Ou o mais fundamental: elas são irmãs? Nada do seu passado é contado e alguns buracos no roteiro ficam evidentes. Em determinado momento, elas passam a fazer parte da vida de Gru e aquele velho clichê se estabelece: alguém, de coração frio e sem talento algum pra paternidade, acaba se descobrindo um pai e coloca em risco seu plano. Entra o dilema: seu sonho de roubar a lua ou sua nova relação com as crianças? É raro existir algum conflito mais clichê que este na história dos cinemas.
O filme tem seus altos e, apesar de alguns momentos o 3D e a animação parecerem estranhos, algumas belas cenas como as do espaço dão gosto de assistir – nada que não possa ser visto em uma versão normal. Mas parece que o roteiro não foi muito bem trabalhado e as piadas – muitas vezes fracas e até infantis em excesso – acabam não funcionando. Até algumas com alto potencial cômico, como a paródia com O Poderoso Chefão, acabam fracassando pela má condução das cenas. O tempo inteiro dá a sensação de que falta algo mais.
A trilha musical começa empolgando (com Lynyrd Skynyrd), mas perde o ritmo. Destaque para o tema principal que, se não é fenomenal e inesquecível, pelo menos me fez repeti-la algumas vezes depois.
Meu Malvado Favorito decepciona por muitas vezes cair no clichê e por ter desperdiçado a chance de ser um grande filme, se tornando apenas mais uma (às vezes) divertida animação. Ou seja, um filme na média. Nota 5.
Ficha:
Meu Malvado Favorito [Despicable Me, 2010]
Dirigido por Pierre Coffin e Chris Renaud, com roteiro de Ken Daurio, Sergio Pablos e Cinco Paul. Elenco original: Steve Carell (Gru - voz), Jason Segel (Vetor - voz), Russell Brand (Dr. Nefário - voz) e outros. Vozes brasileiras de Leandro Hassum (Gru) e Marcius Melhem (Vetor).