Eu havia escolhido a crítica de Alice no País das Maravilhas para estreiar este novo espaço. Mas no intervalo entre a cabine do filme e o lançamento do blog assisti uma pérola do cinema nacional que me fez mudar de idéia:
As melhores coisas do mundo, novo filme de Laís Bodansky.
A história é centrada em Hermano, ou Mano, um jovem de classe média que, aos 15 anos de idade, começa a enfrentar os problemas do mundo real (vulgo mundo adulto) enquanto divide o tempo com os amigos, festas e música. Interpretado de forma magistral (e extremamente natural) pelo estreiante Francisco Miguez, Mano nos leva para o centro de um mundo do qual todos nós fizemos (e ainda fazemos) parte: a adolescência.
Lembro quando tinha 15 anos e minhas maiores preocupações eram parecer legal para a menininha do cursinho e conseguir passar no vestibular para o colégio técnico que futuramente iria estudar. Gostava de estar com os amigos, jogar bola, videogame, etc. Coisas da idade. E também tinha meus conflitos, começava a aprimorar uma visão crítica da sociedade e do meio onde vivia. Mano também começa a perceber isso depois que algumas polêmicas acontecem no colégio onde estuda e que a sua família começa a ruir em crise. O que nós, quando crianças, imaginamos ser um mundo perfeito, vai por água abaixo nesta época da vida.
O filme conta com roteiro de Luiz Bolognesi, marido e habitual parceiro de Laís em seus trabalhos e toca ao retratar de forma fiel o universo desta idade tão peculiar e mergulhada em mudanças. Méritos para a equipe, que investiu pesado em pesquisa e no contato direto e constante com jovens e adolescentes, criando um retrato fiel do que seria a atual classe média. Vale ressaltar que o roteiro é inspirado na série de livros “Mano”, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto.
Engana-se quem pensa que As melhores coisas do mundo é um filme para adolescentes. Ele vai além: ao retratar o mundo em que vivem, seus problemas e angústias, nos leva a refletir também sobre nossa vida e sobre como passamos por essa fase e vivemos depois dela. Não somente os conflitos de Mano, mas também os de seu irmão Pedro (Fiuk) fazem pensar, especialmente quem já enfrentou situações semelhantes.
As atuações do filme merecem destaque. Desde Francisco, que mostra-se totalmente à vontade, até Denise Fraga, sensacional no papel da mãe do protagonista. Fiuk também aparece bem, assim como a jovem Gabriela Rocha (Carol), e tanto Caio Blat, que interpreta o professor Artur, e Paulo Vilhena, que vive o professor de Música de Mano, apresentam interpretações seguras e encaixam bem para os papéis que representam.
Falando em música, as canções do filme misturam desde Arnaldo Antunes (com a tema As melhores coisas), até Beatles (Something), e são alguns dos pontos fortes da película. Aliás, vale destacar a relação dos dois irmãos com a música e o modo como ela é significativa não somente na vida deles, mas de todos os adolescentes – e de todos nós.
Um outro ponto a se destacar é o cuidado e a forma como questões polêmicas são abordados no longa. Homossexualismo, suícidio, bullyng, preconceitos, fofocas... temas atuais, não só da juventude, são tratados de forma simples, mas não simplória, e sem parecerem apelativos - apenas nos fazem pensar, e este é o melhor resultado que poderiam conseguir.
Talvez o único pecado de As melhores coisas do mundo seja se tornar óbvio em alguns raros momentos, mas não é nada que tire o brilho de um dos melhores filmes do cinema nacional – só não digo que é o melhor por não ter um conhecimento profundo o suficiente para não cometer injustiça.
Fui assistir esperando um bom filme, saí afirmando ser um puta filme. Não poderia começar este blog de maneira melhor que não com uma
nota 10. :)
Ficha:
As Melhores Coisas do Mundo [idem, 2010]
Direção de Laís Bodanzky, com roteiro de Luiz Bolognesi. Elenco: Francisco Miguez (Hermano 'Mano'), Caio Blat (Artur), Fiuk (Pedro), Denise Fraga (Camila), Paulo Vilhena (Marcelo), Gabriela Rocha (Carol), José Carlos Machado (Horácio) e outros.